Tragédias coletivas e a lei de causa e efeito
29/01/2013 09:56
Ninguém pode, além do próprio espírito, saber qual o tamanho da dor moral que carrega em seu inconsciente por crimes e violações à lei, cometidos em vidas passadas. Uma morte trágica, que é sempre motivo de comoção social, mesmo que seja difícil de compreender, pode representar incomparável libertação de uma alma que vivia sufocada pela culpa e o remorso avassalador. De gerações em gerações, barbáries e crimes cometidos por grupos são resgatados através de catástrofes coletivas. Mas por que e como isso acontece?
O Espiritismo explica com muita coerência, que cada um recebe segundo as suas obras, porque todos estamos submetidos à Lei de Ação e Reação ou de causa e efeito e à Lei de Evolução ou de Progresso.
Segundo a primeira, nós, seres humanos, com nossos pensamentos, sentimentos e ações, criamos causas que terão um efeito posterior. O caráter positivo ou negativo das causas vai gerar o gênero desses efeitos. É uma Lei que não castiga, mas que reajusta as ações cometidas pelo uso do nosso livre arbítrio. Age devolvendo o caminhante desviado e perdido ao caminho correto do bem e do progresso, através das encarnações sucessivas.
A Lei de Evolução ou do Progresso rege a transformação contínua de tudo o que possui vida, desde os estados rudimentares e inferiores, até formas mais perfeitas e complexas. Por intermédio dessa Lei, o ser humano passou a ser o homem “civilizado” de hoje, abandonando suas etapas selvagens e primitivas. Graças à Lei de Evolução e às provas sucessivas, às quais ela nos submete em nossas existências múltiplas, nós, seres humanos, vamos corrigindo nossas imperfeições, transformando defeitos e debilidades em virtudes ou qualidades, que nos empurram à conquista da vida espiritual. A aplicação do nosso livre arbítrio fará com que essa Lei nos faça caminhar pelas trilhas do bem, do amor e da felicidade, ou ao contrário, pelo caminho da dor.
Essas duas Leis determinam a natureza das provações e das expiações que nos são “impostas”, conforme nossas ações e aspirações. A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual ou que o Espírito se autoimpõe para evoluir, quando se cansa de permanecer estagnado. A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime. Mas, provações ou expiações são sempre sinais de uma inferioridade relativa, pois o que é perfeito não tem necessidade de ser provado e porque o Espírito estagnado ignora temporariamente a sua natureza evolutiva. O que expia recolhe os efeitos das suas más ações, o que é provado atende à Lei de Evolução que preferiu ignorar durante muito tempo.
Individualidade coletiva
Pela lógica exposta dos ensinamentos espíritas, é muito fácil compreender como as Leis citadas são executadas e o que vamos demonstrar é que o gênero de morte que pesa sobre o homem está diretamente vinculado a elas, seja como uma prova ou como uma expiação. Entretanto, falta-nos compreender antes como as faltas individuais podem ser cobradas coletivamente.
Em “Obras Póstumas”, encontramos interessante explanação que nos permite entender melhor esse processo, pois nos diz que as mesmas Leis que regem o indivíduo, regem também a família, a nação, as raças e o conjunto dos habitantes dos mundos, que são individualidades coletivas. (…) O indivíduo, a família e a nação cometem faltas e a cada uma delas, seja qual for seu caráter, expia-se em virtude de uma mesma lei.
Ocorre o mesmo quando se trata de crimes cometidos solidariamente, por um certo número de pessoas; as expiações são solidárias, o que não aniquila a expiação simultânea das faltas individuais.
Em todo homem há três caracteres: o do indivíduo, do ser em si mesmo: o de membro de família, e, enfim, o de cidadão; sob cada uma dessas três faces pode ser criminoso ou virtuoso, quer dizer, pode ser virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão (…).
Salvo exceção, pode-se admitir como regra geral, que todos aqueles que têm uma tarefa comum reunidos numa existência, já viveram juntos para trabalharem pelo mesmo resultado, e se acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o objetivo, quer dizer, expiado o passado, ou cumprido a missão aceita.
(…) há faltas do indivíduo e do cidadão; a expiação de umas não livra da expiação das outras, porque é necessário que toda dívida seja paga até o último centavo.
(…) um excelente cidadão, pode ser muito mau pai de família, e outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser um mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa sociedade. São essas faltas coletivas que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de talião (…)
A humanidade se constitui de personalidades que compõem as existências individuais e de gerações que constituem as existências coletivas.
É importante compreender que aqueles que perecem nas tragédias coletivas já o tinham programado antes do seu nascimento. A Espiritualidade somente os inspira a reunir-se para cumprir a programação. É um compromisso que assumiram perante a Lei.
Américo Domingos Nunes Filho, num artigo publicado na Revista “O Consolador”, explica que se considerarmos que os Espíritos influenciam nos nossos pensamentos, como o diz a questão 459 de “O Livro dos Espíritos”, é provável que os Espíritos nos inspirem em quase todos os atos de nossa vida e, por que não, da nossa morte?
O artigo apresenta exemplos:
Chega-se o momento de uma pessoa desencarnar por ocasião de um acidente, segundo a sua programação reencarnatória, a Espiritualidade pode inspirá-la a subir em uma escada deteriorada que não suporte o seu peso. Os Espíritos não quebram a escada, mas utilizam a sua fragilidade.
Um homem, cuja programação é a de morrer eletrocutado por um raio, será inspirado a abrigar-se debaixo de uma árvore que será atingida durante uma tempestade.
Da mesma forma, se alguém não deve morrer num acidente ou desastre natural, a inspiração será para que o evite. Por isso muitas pessoas escapam do que seria uma morte certa. Como aquelas que desistem de viajar em cima da hora e, mais tarde, descobrem que o meio de transporte que usariam sofre um acidente.
É importante destacar também, que o mal não é planejado, que ninguém nasce programado para servir de ferramenta ao cumprimento de uma prova ou expiação. As ações homicidas, genocidas, o terrorismo, as irresponsabilidades que terminam por eliminar vidas, ou as omissões que matam, são escolhas individuais de cada Espírito e, mais cedo ou mais tarde, a Justiça também os alcançará, nessa ou em outra existência.
Queremos esclarecer que tampouco podemos condenar as pessoas que pereceram em tragédias coletivas como antigos criminosos. É mais justo considerá-los como filhos pródigos que conseguiram vencer uma grande etapa no seu caminho evolutivo, que voltam para casa mais leves e serenos, porque se liberaram de culpas que os machucavam.
Queremos dizer aos seus familiares que não se revoltem, nem se sintam abandonados por Deus. Temos uma visão muito limitada da Sua Bondade, do Seu amor e da Sua justiça, já que só podemos lembrar a atual existência e, na maioria das vezes, ela é incapaz de explicar-nos as causas de tais fatos.
Fonte: Texto editado, extraído do site da Sociedade Espírita Allan Kardec – Por Marina Silva